Minha TPM está colaborando, mas eu estou com mil motivos para esta tensão. Acho que eu nunca pude desfrutar de felicidade como a de três anos para cá. Minha vida inteira foi de tensão. Sempre tive válvulas de escape, que em geral, eram meus namorados, mas, no todo, eu vivi com paranoias e fiz um esforço sobrenatural para me livrar delas. Eu precisei ouvir hoje, daquele filho da puta, que eu não amadureci para ser mãe. Só Deus sabe a vontade que eu tive de responder-lhe, mas, se a água não pode carregar a pedra, desvia dela. Seja como a água. Uma vez ouvi isso de um amigo.. Sábias palavras. Você as escuta e, dois anos depois, você vai conseguindo aplicar a tese na sua vida.
Até os catorze anos, minha vida foi um caos. Não melhorou depois disso. Me lembro de brigas de grosserias, mas, eu tinha a minha escola, onde eu passava as tardes, tinha livros e bibliotecas. Lembro de uma casa em que eu tinha um quarto enorme com um balcão de pedra. Eu quase não precisava cruzar com minha mãe e lembro-me daquela estúpida colocando a louça no lixo porque a gente não lavou.Pegava livros para ler nas férias e os lia em cima do balcão. Criei coelho e sei lá mais o quê, ouvi música. Lembro de àguias da Déborah Blando. Eu tinha uns doze anos nessa época. Tinha um som, ouvia alto, minha melhor amiga era a Cíntia Carla. A gente chegou ao ponto de estudar matemática por telefone. Andressa também era minha amiga grude. Comecei a namorar o Christian, seis anos mais velho que eu. Tive que suportar a desconfiança e a falácia de cidade pequena que acreditava piamente que eu não era mais moça. Para uma moça, acredite, não há coisa pior. Bem, quando fui morar em Fortaleza, já namorava o Hamilton, o rapaz que me deflorou. Acho que no fundo, nunca perdoei ele por isso, ou, talvez, pela minha fraqueza. Era torturante ir para o culto e saber o que eu tinha feito. Por isto, fui me afastando da Igreja. Em Fortaleza, fui morar com minha tia. Por maravilhosa que ela seja hoje, naquela época era briga e mais briga. Era a conta de telefone, era o frango, era a comida, era o meu namorado, era a água gelada depois do café, e fui embora de lá, adivinha, por causa de uma briga, incitada pela minha mãe. A terceira tia que brigara feio comigo até ali e que minha mãe não me defendera, já que, eu tinha todos os motivos para ser repreendida. Ela nunca teve pulso para me domesticar e agradecia a qualquer um que o fizesse. Não teve tempo no mundo em que eu tenha sofrido tanto. Eu dormia na varanda do apartamento em um colchonete, porque, sendo aquele o lugar que ninguém queria, eu podia sentir que, naquele momento, ele seria só meu. Nesse tempo, terminei com o Hamilton, comecei com o Júlio, com o Ravel, com o Nenel, com o Júlio César. Minha amigona era a Eurides, que de certa forma, me protegia. Claro que ela me manipulava também, e hoje, eu sei que no fundo, talvez ela tivesse inveja e me usasse contra a minha tia na guerra patroa-empregada. Não gosto de lembrar desse tempo. Meu lugar naquele apartamento era um lado do guarda roupa que eu arrumava e desarrumava para arrumar o que estava bagunçado dentro de mim. Foi o tempo em que eu fiz amizade com a Karine e a casa dela se tornou meu melhor lugar do mundo. Aquela casa enorme e cheia de gente, a atenção da mãe dela, sempre tinha comida na mesa, sempre alguém para conversar. Então, fui morar em um apartamento no andar de cima ao da minha tia com o meu irmão. E era briga. Era briga por causa do paninho do armário, por causa do quarto, por causa da minha bagunça e por causa de tudo. Achando pouco a tragédia que era minha vida, conheci o Thiago, meu ex marido em uma história que parecia um belo romance, mas que na verdade, era mais uma tragédia realista do Eça, daquelas tipo incesto, pecado contra o celibato, sabe, foi um romance com um misogino.
Quatro anos negros na minha vida de gritos insuportáveis, de hostilidade e de coisas, que a Dálleth normal não aceitaria. A Dálleth agressiva passou indefesa, apática, inerte. Meu eu estava em suspensão. Estava em algum lugar que eu não conseguia recuperar.
Os três melhores anos foram os que eu tive os problemas que quis, ouvi o silêncio, deixei tudo bagunçado. Ver minha bagunça é o meu primeiro sinal de liberdade. Eu chego em casa e sei que a casa é minha porque eu a deixei como quis. E aí, me vem os problemas. Eu tive que ouvir daquele cretino irresponsável, dele, que nem paga a pensão da primogênita, que nunca cuidou dela, que eu não amadureci. Porque ele espera que eu vire uma dona de casa, já que para o padrão misógeno dele, eu não mereço crescer. Eu deveria estar em casa cuidando dos meninos, porque eu sou mãe, e ser ser pai para ele, é o que ele é para a Kayline. E meu filho de cinco anos, diz que ele é o melhor pai do mundo. Se eu tenho que ficar em casa porque sou mulher, então porque ele não me sustenta e não sustenta os filhos dele, já que ele é homem. Eu passei cinco minutos ouvindo sermão daquele filho de puta. E ele ainda reclamou dos convites de aniversário que eu fiz para a Marina. Porque eu comprei e não tenho o direito de fazer como eu quero. Eu tinha que ter feito como ele queria.

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