sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Pablo Villaça

Hoje fui chamado de "machista" e acusado de querer "controlar o corpo das mulheres".
O motivo: me posicionei contra a ideia de adultos indo para a cama com adolescentes.
Atenção para a falta de especificidade de gêneros na frase anterior. Não me importa se é um homem adulto com uma adolescente ou uma mulher adulta com um adolescente; a simples ideia de uma pessoa de 30 anos ir para a cama com uma de 15 é algo que me soa profundamente errado.
E não se trata de moralismo, mas de uma questão que passa pelo desenvolvimento psicossexual humano. Na primeira metade da adolescência (dos 12 aos 15 anos, portanto), a maturação cognitiva e emocional do jovem ainda é precária, mesmo que seu desenvolvimento físico possa estar adiantado. Nesta fase do desenvolvimento cognitivo, em particular, os adolescentes se tornam profundamente preocupados com a opinião alheia e susceptíveis ao julgamento dos demais sobre sua aparência e comportamento. De um ponto de vista puramente físico, o sistema límbico, que poderia ser descrito como uma espécie de "centro emocional" do cérebro, está sendo bombardeado não só pelas novas experiências que o adolescente vive, mas também por hormônios - tudo isto numa fase em que o indivíduo está tentando definir a própria identidade.
O resultado óbvio: um jovem de 14, 15 anos pode até ter condições FÍSICAS de "seduzir", mas certamente não tem a maturidade psicológica/emocional para lidar com as consequências do que ocorrerá e provavelmente nem mesmo para compreender exatamente o que está fazendo.
E percebam que não estou sequer mencionando o fato de que as mulheres em nossa sociedade tendem a ser julgadas quando se mostram sexualmente ativas, o que torna o processo ainda mais problemático para as adolescentes. Quando uma mulher de 30 anos se envolve com um garoto de 15, a reação mais comum é a de dizer que este "se deu bem" - e também a de julgar sua parceira como uma predadora, uma ninfomaníaca, uma desajustada. Quando um homem de 30 se envolve com uma garota de 15, logo surgem vários para dizer que "ela sabia o que estava fazendo", que "há muita menina que sabe mais do que um adulto", que "ela o seduziu" e por aí afora.
Mas o mais perverso nesta situação é que é terrivelmente fácil para um adulto seduzir uma adolescente. E o mais perverso: levando-a a acreditar que é ELA quem o está seduzindo.
Não entendo, aliás, o que leva um adulto a querer se envolver com uma adolescente. (Ou uma adulta com um adolescente - repito: a questão aqui vale para qualquer gênero, embora as mulheres sejam julgadas com preconceito em ambos os casos, sendo mais velhas ou mais novas.) Suponho que seja uma profunda insegurança com relação às mulheres adultas, já que o sujeito parece estar procurando a idolatria de uma menina.
Seja como for, o fato é que vivemos num mundo que traz até LEIS que estimulam/facilitam a realização do desejo masculino enquanto tornam as mulheres vulneráveis a este. Não interessa se é "legal" ou não ir pra cama com uma menina de 14 anos; certamente é reprovável por não envolver consensualidade de fato - apenas a APARÊNCIA de uma, já que um dos participantes está em profunda desvantagem psicológica/emocional.
Isto é chave, portanto repetirei: é absurdo sugerir que há "consensualidade" entre desiguais. Voltem ao que mencionei no início, sobre o desenvolvimento do sistema límbico e a maturação cognitiva de um jovem de 15 anos, bem como sua busca por identidade. A consequência é óbvia: é fácil compelir alguém assim a se entregar a um adulto. Chamem de "validação" ou o que for, mas a questão é a mesma: o que parece ser voluntário, consensual, é na realidade um jogo de cartas marcadas em que o vencedor será aquele que tiver a experiência e a maturidade para manipular o outro. E na maioria absoluta dos casos, por uma questão lógica, este será o adulto.
E então surgirá alguém citando este ou aquele caso de envolvimento entre adulto e adolescente que resultou num grande amor eterno e perfeito. Em primeiro lugar, não estou discutindo casos específicos. Se deu certo, que maravilha. Não é a regra, contudo. Meu avô fumou a vida inteira e não teve câncer - e isto não significa nada.
Anedotas particulares não servem como evidências estatísticas; são apenas... anedotas.
Dito isso, não estou dizendo que adolescentes não devem fazer sexo. CLARO que devem. É assim que, adivinhem só?, irão amadurecer, adquirir experiências e se tornar adultos sexualmente funcionais. No entanto, justamente para que não tenham uma visão distorcida do sexo, do relacionamento entre casais (do mesmo sexo, de sexos diferentes, não importa) e da relação de poder que pode existir em relacionamentos disfuncionais, o ideal é que aprendam com pessoas da mesma faixa etária. Já sofrerão muito assim, já tomarão muita pancada e formarão cicatrizes sem que tenham tido que se envolver com um adulto que, sabe-se lá por quê, decidiu que um adolescente é a melhor opção a levar pra cama.
Assim, que façam sexo. Muito. Mas consensualmente. E, como já afirmei antes, só é possível haver consenso entre iguais.
Se não forem iguais, o que haverá é manipulação em maior ou menor grau.

Nenhum comentário:

Postar um comentário