Terça-feira é dia de sushi. Parece simples, parece uma comida simples, mas não é. O sushi é aquele momento especial na semana em que eu saio comigo mesma. Saio de bicicleta, desço a Júlio Cavalcante como se nada mais no mundo me importasse, cabelo ao vento e uma sensação de bem-estar, de satisfação, de dever cumprido e de auto-suficiência.
Mas, em outros dias se pode comer sushi. Terça também é dia de karatê, e ontem, terça-feira, eu fui, antes que a novela acabasse, porque há dias eu não ía e eu precisava passar meia hora me alongando na bola de Pilates antes que o treino começasse. Por pura intuição, sabia que ele não iria dar aula, mas estava me importando muito pouco com isso. Me poupou o esforço que teria que fazer para fingir que ele não existia. Apesar de eu ter prometido a mim mesma que não iria assistir aula do Bred, acabei ficando, porque já estava lá, e depois de lá, eu ía comer sushi.
Assim que cheguei, um colega de peixes (eles percebem tudo) me viu e perguntou se eu estava bem. Eu ri. É absolutamente normal alguém me perguntar isto quando estou quieta. Ele acrescentou: ou está mal, ou está muito relaxada. Bem, esse acréscimo me fez ter a certeza de que eu não estava com uma cara ruim, talvez meu semblante seja incompreensível nessas horas.
Lembrei-me de quando eu estudava no Evolutivo, na turma Especial do Terceiro ano. Havia um professor de nome Eduardo que ensinava História da antiguidade. Não precisava ser um bom professor de história para que eu admirasse, bastava para isso, apenas, que fosse professor de história. A voz dele era muito imponente. Lembro-me bem do dia em que ele me chamou a atenção, porque, claro, eu estava conversando. A sala inteira riu, por ter tomado um susto e eu, quis chorar.
Bem, o que ocorreu foi que, um belo dia, eu estava arrasada. Sentei em um canto da sala, próximo ao quadro branco de pincel e fiquei observando todo mundo, porque nessas horas, preciso parar, ficar bem quieta para que os búfalos loucos que existem dentro de mim não pisoteiem a minha alma. O professor aproximou-se com uma cara de quem já estava pronto para me levar de ambulância para o hospital mais próximo, o IJF, neste caso, e me perguntou se eu estava bem. Aquilo me comoveu. Apenas respondi que estava pensando. As pessoas sabem que o fato de eu estar pensando é grave, é gravíssimo, não por eu pensar, mas por eu deixar que as pessoas percebam que eu sou capaz disso. Eu penso e penso muito, acho até que tenho síndrome do pensamento acelerado (preciso ler a esse respeito), mas, eu sou tão acelerada que penso e faço, tudo ao mesmo tempo. Se estou dado aula reclamam porque falo rápido demais, se faço kata é correndo, e me irrito com aquela lentidão, das outras pessoas, perco até a concentração e erro a sequencia inteira.
Bom, faltou aquele energia, aqueles olhares de incentivo e de admiração.Faltou aquela devoção feminina de aluna, e tirando essas descrições que soam apaixonadas, mas que não são, é evidente que existe e sempre existiu uma energia boa que flui de um lado a outro e que fazem com que os treinos e as terças feiras sejam envolventes e cheias de energia. Uma amiga me disse que é química.
Depois de meia hora de treino sem química, eu já estava ansiando pelo sushi, e saiba, às vezes eu rezo para o treino não acabar. Fiquei pensando como seriam enfadonhos os próximos treinos. Decidi cortar a unha e dar um tempo, sabe. Nem tanto para ele, mas um tempo para mim. Quinta, quem sabe, talvez eu sinta vontade, pode ser que eu me decepcione por ele não estar lá e sinta vontade de vir embora. Talvez, não pelos olhares dele, mas, talvez pela química.
Na ´da para o Sushi, peguei a Perimetral e pedalei, envolta nos meus pensamentos, ora cheios, ora vazios, e me irritei com os atletas que não respeitam a ciclovia, que não nos dão espaço, que não entenderam o que é uma ciclovia. Acabei indo para o asfalto, porque, como bem sabe aqueles que me conhecem, eu não tenho paciência nem para esperar o hot ficar pronto. A espera destrói meu apetite e eu queria comer sushi com todo desejo que me fosse possível já que eu preciso me conformar em não satisfazer outros tantos. Comi sushi com uma cerveja. Cerveja às vezes é necessária para aliviar as emoçoes. Nessa ginástica de conter búfalos e aliviar emoções, vou, agora, comer um chocolate porque a gente precisa, todos os dias de doces e de ilusões e de álcool e de alguma outra química.

Hoje é terça-feira, e eu preciso dizer que esse é o seu melhor texto. É vc sendo vc, pura, cristalina e quente... Talvez pq essas palavras relatam o momento atual, como se fosse uma xerox dos seus sentimentos. Continue, parece ate que estou conversando contigo. As palavras nos aproximam.
ResponderExcluirAs palavras nos aproximam. Por isso, aguardo seus textos!!!!
ExcluirAs palavras nos aproximam. Por isso, aguardo seus textos!!!!
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