sexta-feira, 24 de junho de 2016

A verdade

Durante o fim de semana, ajudei um rapaz com uma matéria sobre Direito Romano. Na oportunidade, lembrei-me de um filme "O Clube do Imperador". É incrível como as nossas experiências nos fazem, cada vez em que assistimos a um filme pela segunda, terceira ou quarta vez, perceber novos detalhes. Das primeiras vezes, senti que o filme era bom, só que agora, entendi uma parte da "moral da história". Uma parte, porque sei que da próxima vez, entenderei algo novo ou diferente. A melhor coisa que ouvi do roteiro, foi uma lição, de um dos filósofos clássicos em que diz que as virtudes são ensinadas e não natas. Assistindo um dos vídeos do Olavo de Carvalho "Verdade de Fato", ele fala que as experiências das pessoas prestes a morreres são de que deveriam ter vivido com mais verdade. Bem, ninguém precisou me ensinar isso, mas, não sei se o que eu entendo sobre caráter, não sei se meu sol em áries, e não sei se minha ideia de religião, me fizeram entender muito cedo que era isso o que eu queria. Minha mãe me dizia que se eu fizesse um mal feito, contasse. Ela me perdoaria pelo erro, mas, se eu mentisse, apanharia duas vezes: pelo erro e pela mentira. Essa postura materna me proporcionou uma certa autenticidade. Não só isso. O fato de ela ser muito libertária, me deu apoio para esse tipo de comportamento. Ainda acho que a minha natureza me traz
essa essência, muito mais que ter aprendido essa virtude. É lamentável, às vezes, quando sei que Marina andou mentindo. Isso me faz me lembrar a fraqueza moral do pai dela. Ela tem um certo jeitinho de manipular os fatos. Isso me incomoda e, da última vez em que estive com ela, fui bem clara quanto a isso. Pensei em colar papeizinhos dizendo: "Não pode mentir" ou "Mentir é feio". Ainda não descartei a ideia. Uma vez, me pediram determinada coisa e respondi que não, me justificando em seguida. Disseram que eu estava dando desculpas e fui enfática : "Sou a favor da autonomia da MINHA vontade, portanto, não preciso mentir se eu apenas não quiser fazer algo. Às vezes, minto. Na verdade, tento analisar o custo benefício daquela verdade, mas em geral, bato o pé e pronto. Eu aprendi que você consegue muitas coisas verdadeiras na vida quando se é verdadeiro com a vida. Por poucas que sejam, são verdadeiramente suas.  Lembrei-me de quando a minha ex-sogra (que infelizmente, civilmente, nunca será realmente ex), dizia a meu ex-cunhado (a mesma coisa) para não se casar na Igreja, porque na Igreja a pessoa não se divorcia. Nesse contexto, a união estável já era reconhecida civilmente para todos os efeitos de pensão, divisão de bens, etc. Então eu pensei, puxa, se a gente não engana mais o Direito, a gente também não engana Deus. É como se casar só no civil, ou não casar, fosse suficiente para enganar a Inteligência Divina. A Bíblia diz que o Diabo é enganador e Pai da Mentira. Junte tudo e ... Pois é. Outro vídeo em que um filósofo cristão falava para alunos de uma universidade, esclarecia que a quinta prova da existência de Deus era a experiência com Ele. E, em outro vídeo do Olavo, ele menciona que DEUS está muito além da Doutrina, ele quase diz que a Doutrina cega a fé verdadeira. Isso fica bem claro em uma outra postagem que fala sobre a minha experiência claustrofóbica ao ir para o Templo. E por fim, a Bíblia diz: Conhecerei a verdade e a verdade vos libertará. É isto. A verdade é Deus para a religião, a Verdade é virtude para os filósofos, e a verdade  é um modo de vida. A verdade também é um sustentáculo para a autonomia da sua vontade. Acho que descobri mais uma lei  materna para os meus filhos. Talvez, eu não tenha aprendido da melhor forma possível, mas aprendi.

domingo, 5 de junho de 2016

Igreja

Vi uma postagem hoje que me incomodou. Falava sobre a menina que foi estuprada por trinta e três homens. Eu quis comentar na publicação, mas preferi falar in box. Na justificativa, o autor da postagem me disse que "Quem procura, acha". Perguntei para ele o que ele pensaria se o fato de eu andar com roupa curta fizesse que alguém pensasse o mesmo sobre mim. Ele respondeu que não era a mesma coisa. O pior é que, nas aulas de Medicina Legal na Faculdade, um dos alunos que é escrivão da Polícia, tentou defender a tese de que a vítima pode provocar o crime. Eu, que ia com shortes curtos, me indignei. A questão é que, por causa do meu físico, qualquer roupa parece provocante. Mas, afinal, não é sobre isso que estamos falando. Não importa se eu quero sair com roupa provocante. E daí? Isso não dá direito a ninguém de invadir a minha zona de privacidade, a minha dignidade.  Lembrei -me de um rapaz que falou que se ele percebesse durante o ato que a garota não estava afim, ele parava. Eu não entendi na hora, e eu tinha até o hábito de terminar mesmo com dor, mas ele me explicou que aquilo era estupro e que eu não deveria aceitar. Eu parei para pensar. Nem eu estava respeitando os meus limites, poxa. Eu aceitava fazer uma coisa que de fato eu não estava querendo, e eu percebi, que nós mulheres somos ensinadas, de uma maneira ou de outra, que nós DEVEMOS satisfazer um homem. Acho que eu fiquei mais estarrecida por ter me dado conta tão tardiamente do meu comportamento absolutamente irracional. Ele ganhou a minha admiração. "Nunca é alto o preço a pagar pelo privilégio de pertencer a si mesmo." 
  Sim, eu sei, ele era o maior ateu de todos os tempos, mas eu ainda acho que ele tinha razão.

Bom, falei para o rapaz sobre um provérbio que diz :"Erga a voz em favor dos que não podem defender-se, seja o defensor de todos os desamparados.
Erga a voz e julgue com justiça; defenda os direitos dos pobres e dos necessitados".
Ele, membro do ECC, tendo uma conduta tão anti cristã. Me perdoem a virgenzinhas do ECC, eu admiro a virgindade, admiro mesmo, mas eu conheço algumas pessoas de grupos como ECC e Shalom, que por favor, se revestem de imagem e hipocrisia. 
Me deu um click. Não é que eu não goste de ir ao culto. Eu realmente gosto, mas eu me preocupo tanto em que digam: Olha, vai sábado para o culto e domingo para o Bar do Aquino, ou, olha, veste vestido longo para ir à Igreja, e no dia seguinte está de shortinho", eu passo a me preocupar tanto em parecer uma pessoa que possa dar testemunho, que segue as leis de Deus, que pareça uma pessoa moralmente aprovável, que isso tudo me faz sentir uma hipocritazinha de quinta. Acho que com tanta pressão SOCIAL e não espiritual, a gente acaba esquecendo de ser justo e de ter um bom caráter. É, parece que eu descobri o X da questão. Eu, apenas não quero dar satisfações, sabe, eu gostaria de dar conta sobre mim somente a DEUS. Eu acho que tenho direito de fazer isso. Apenas, algo muito genuinamente meu, acha que não está afim de parecer alguém que eu não sou. Não quero vestir saia e blusa de manga para parecer aceitável, eu até uso, quando me convém.
http://www.brasilpost.com.br/aina-cruz/teoria-das-pessoas-comple_b_7489582.html

"Haddock Lobo, 1164, apartamento 53, ano de 2015, quinta-feira, 10h30 da noite. Luz fraquinha do abajur iluminando a sala grande e "desmobiliada". Perto da janela, a congregação das teorias de mesa de bar confabulando sobre a vida de forma geral e sobre os relacionamentos.
M. diz que gosta de seu emprego em SP, que ama a cidade e suas possibilidades. Mas diz que também gostaria de viver em outro lugar, de outra forma, fazer outras coisas. Não sabe o que quer, mas acha que sabe o que não quer. Acredita que o amor existe, mas não tem nada a ver com essa coisa de novela ou de cinema. E fica triste quando nota que a maior parte dos casais que a rodeiam são infelizes e só estão juntos por comodidade.
A. está em crise, pois mudou de profissão. Por que mudou? Também não sabe, só sabe que sentia que não era aquilo que deveria fazer para o resto da vida. A. acredita que ninguém nasceu para ser uma coisa só. Acha triste que tenhamos de nos resumir dessa maneira ao escolhermos uma profissão. A. pensa que as relações amorosas foram feitas para dar errado, mas que, como existe a teoria do caos, também existe as relações duradouras e felizes. Fica triste quando nota nos bares e restaurantes casais sentados sem conversar.
D. ouve apenas. Profissionalmente e em relação a cidade sente-se bem. O que a pega um pouco nos últimos tempos é o fim de sua relação com F. Ela rompeu. Estavam morando juntos, mas ela não estava segura se era aquele o tipo de relação que queria, se ele era o homem para ela. Tinha medo que passasse a vida a conformar-se e não a apaixonar-se. Pensa na música de Chico: Lilly Brown. "Nunca mais romance, nunca, nunca mais feliz". Casar seria matar a paixão?
M., D., A. Pessoas complexas. Enquanto falavam de suas crises, teorias, possibilidades foram percebendo com felicidade e espanto o quanto eram parecidas em suas frustrações e em suas expectativas. Em seus sonhos e em seus medos. Em seus anseios e inseguranças.
As pessoas complexas raramente sabem o que querem, mas frequentemente sabem o que não querem. É um tipo de gente que não sabe comer a vida pelas bordas e já enfia a colher, com tudo, no meio da sopa. Arriscam queimar a língua, porque sabem que se queimar, passa. Ninguém morre de queimadura na língua, como ninguém morre de coração partido, de dor de cotovelo ou frustração.
As pessoas complexas não conseguem olhar para o mundo e aceitar simplesmente. Elas se questionam o tempo todo tudo. Chatas? Talvez, mas é que não conseguem existir de outro modo.
M., D. e A. estão cansadas do mundinho previsível, das pessoas tão quadradas, das possibilidades pequenas que o mundo lhes oferece. Está certo que a vida nos atende escassamente, disso já sabemos. Mas para uma pessoa complexa é a morte levar a vida a acomodar-se. Fazer as coisas porque vai ser mais confortável ou socialmente aprovado. Não se trata de rebeldia, nem de originalidade. É apenas que um coração complexo pulsa em arritmia, tem um compasso diferente, que se mistura frequentemente ao passo descompassado do mundo e da vida.
As pessoas complexas não acreditam que felicidade seja um carro do ano, um apê "um por andar" ou uma cobertura. Não acham que roupas caras te fazem mais bonita. Não acham bacana ir à balada da moda e nem fazer o que todo mundo faz.
Elas se questionam sobre os relacionamentos, sobre os casamentos. Elas querem se casar, querem se relacionar, mas tem que ser de verdade. Tem que ser com aquele alguém que as veja por dentro, que esteja ali todo corpo, todo presente, pronto para debruçar-se sobre o outro. Pronto para fazer da vida uma descoberta, uma aventura, um lugar sem ontem e sem amanhã. Não precisam de status. Não sabem se a fidelidade é a parte mais importante. Acreditam na lealdade, sobretudo.
Essa gente complexa detesta assuntos burocráticos, relações burocráticas, protocolos, regras sociais, dizer o que convém. São sinceras do fio do cabelo a ponta do dedão do pé. Não dissimulam e detestam mesquinharia.
As pessoas complexas acreditam na vida. Tem fé no amor e nas relações humanas. Elas olham o mundo e enxergam suas limitações, mas também, os seus encantos.
Não têm preconceito. São abertas ao novo. Gostam de experimentar sabores, cores, amores, formas, conteúdos, jeitos, gentes, teorias. São orgânicas. São recicláveis. São sustentáveis.
As pessoas complexas acreditam que as pessoas são o que dizem, o que pensam, o que sentem. Ninguém é o que tem. Aliás, pessoas complexas detestam assuntos como: a casa que eu comprei na praia, o meu salário de R$ 15 mil, o meu carro novo, etc.
Gostam de arte, de gente, de música, de viagens. Amam a liberdade e não sabem viver sem ela.
Respeitam o espaço do outro. Preservam a liberdade do outro. Amam as possibilidades do outro.
Não querem que as pessoas sejam como elas. São traumatizadas por uma sociedade que não as compreende e por isso não exigem do outro nada além do que ele tenha para oferecer.
Gostam de se emocionar com a vida e com o mundo. Nunca se acostumam a ver pessoas morando na rua, crianças pedindo dinheiro no semáforo. Choram com certas cenas da vida e lutam para que o mundo seja um lugar mais justo, mais acolhedor, com mais oportunidades para todos.
Fazem, todos os dias, pequenas revoluções.
Adoram conhecer lugares novos para formarem novas memórias. Conhecer gente nova, para construírem novas histórias. Contudo, carregam o passado, com seus ensinamentos e seus momentos inesquecíveis, sempre bem junto.
Se reconhecem nos lugares e adoram andar em bando. Ficam juntos falando de assuntos complexos ou de bobagens. Mas bobagens sinceras, coisas do bem. Se falam mal de algo é só da rede globo, do big brother, de certos políticos, enfim, de quem merece.
Pensam que a vida é uma só, sem ensaio e sem after. Assim, vivem cada dia como se fosse o único, como se fosse o último.
São pessoas sensíveis, que buscam extrair da vida sua essência e que querem traçar seu próprio destino. Acreditam na construção da felicidade e acreditam que essa não está na conta bancária, nem em um marido ou mulher que os espera em casa, nem em um filho, mas em cada um de nós.
Gente complexa tem alma de poeta mesmo quando nunca escreveu sequer um verso.