sexta-feira, 29 de abril de 2016
segunda-feira, 11 de abril de 2016
Apatia
Estive apática durante esses dias. "Apática" é uma palavra engraçada que já causou um certo aborrecimento a uma amiga, e por isso, ela ficou evidenciada pela nossa adolescência. Bem, meu filhote apresentou uma complicação no rim, e doença sempre me causa uma paralisia. O medo nos paralisa. Durante as horas em que não estava vivendo esta angústia, me refugiava no entusiasmo pelo pretenso escritório. Eu quis colocar minha energia nesse projeto, mas ele malogrou. Depois da reunião, estive analisando todos os pormenores da conversa, identificando em que momentos fora inconveniente, pensando que eu não era tão essencial ao projeto. Poxa, a gente sempre quer ser essencial. A maturidade consiste em superar esta frustração, e fora uma noite desagradável, já que a "desfrutei" com a minha companheira insegurança. Não gosto de situações que me causem isso. Agora, pensando bem, talvez não fosse uma ideia tão boa. Engoli aquela sensação ruim e nem me dei o trabalho de chorar, Artur, era minha primeira preocupação.
No dia seguinte, ao chegar em Fortaleza, fui para casa do tio, médico, casado com minha tia. Ele examinou os resultados de Artur. A boa notícia é que um dos rins está funcionando bem. Perguntei pelo meu primo, mas ele não mora mais em casa. Está morando na Praia de Iracema. A irmã dele, mais ativa está com depressão e até tomei um susto quando a vi falar delicadamente com Artur. Ela nunca fora delicada nem parecia muito ligada em crianças.Ao contrário, parecia mesmo uma sagitariana, que de fato é, falando superficialmente, perguntando coisas simples. Honestamente, parecia que não era a que aprontava comigo desde que eu era criança. Fiquei pensando em que a transformara Naquela. Ela, muito mimada e inconsequente, não aprendeu a respeitar limites. Acho que ela percebeu da pior maneira, ou, ainda não conseguira perceber, que o mundo não é impune e tampouco, resiliente.No meio daquele apartamento da Aldeota, milimetricamente arrumado, naquela casa que mais parecia uma vitrine, perto da tia rica, do tio médico e das primas ricas, ante a todo aquele luxo, eu quis oferecer a minha riqueza, a minha alegria, a minha auto-suficiência. Por mais que queiramos encobrir, esses estereótipos existem. A forma como vemos alguém desde criança nos influencia por muito tempo. É uma distância que meu diploma em Direito não compensou. Eu continuo sendo a sobrinha pobre do interior e ela a tia rica. Mas, percebi que eu tinha ganhado uma dádiva da vida. Aprendi, por muito custo, a ter a paz que eu tenho. Claro que a noite passada me perturbou, mas quem não se perturba? O que pensei foi, que eu tenho possibilidades e que minha vida humilde me dá felicidade. Estar em Fortaleza, dentro de shoppings, em meio a tantos carros, cobra das pessoas uma felicidade material. Em Iguatu não. Em Iguatu eu consigo ser feliz com muito pouco, com karate, sushis, almoçar na Dona Neide, andar de bicicleta, ir para o trabalho de havaiana.
No dia seguinte, fui para o Del Paseo por insistência da minha mãe, o que aconteceu foi tão singelo quanto uma brisa perfumada, e, eu quase sou capaz de sentir o cheiro. Enquanto eu caminhava com minha mãe e com as crianças, eu vi meu primo o qual havia perguntado no dia anterior. Ele me olhou surpresa. Paramos uns minutos e conversamos. Minha mãe, interrompia a todo instante. Acho que ele fora meu primeiro amor, se é que eu sabia o que era aquilo. Uma vez, viajei com ele para Alto-Santo para visitar nossa avó paterna. Outro dia, fui com a família para Cascavel e me lembro que adorava passar a mão nos cabelos dele. Talvez, meu vênus em touro, mas, de alguma forma especial, o rosto, os olhos, o cabelo me faziam admirá-lo. Acho até que eu via um pouco a presença do meu pai nele. Quando fiquei adolescente, costumava ir a casa dele, mas ele sempre estava envolvido com a faculdade. Uma vez, até brinquei que ele me esperasse para casar com ele. Ah, eu vi que não passou de uma brincadeira e a vida seguiu e tomou os rumos. O fato é que aqueles dez minutos de conversa, em que ele me abraçou três vezes, me olhou encantado e disse que eu estava linda, talvez, pelo vestido longo,
me fez esquecer das angústias passadas. Lembrei de Clarice em um de seus contos quando um garoto joga confetes nela. Me senti uma rosa, naquele momento. E quis ser juíza para fazer parte do mundo dele. Mesmo que não se realize, como todas as ilusões que tive com ele desde criança, ainda sinto o cheiro da brisa.
No dia seguinte, ao chegar em Fortaleza, fui para casa do tio, médico, casado com minha tia. Ele examinou os resultados de Artur. A boa notícia é que um dos rins está funcionando bem. Perguntei pelo meu primo, mas ele não mora mais em casa. Está morando na Praia de Iracema. A irmã dele, mais ativa está com depressão e até tomei um susto quando a vi falar delicadamente com Artur. Ela nunca fora delicada nem parecia muito ligada em crianças.Ao contrário, parecia mesmo uma sagitariana, que de fato é, falando superficialmente, perguntando coisas simples. Honestamente, parecia que não era a que aprontava comigo desde que eu era criança. Fiquei pensando em que a transformara Naquela. Ela, muito mimada e inconsequente, não aprendeu a respeitar limites. Acho que ela percebeu da pior maneira, ou, ainda não conseguira perceber, que o mundo não é impune e tampouco, resiliente.No meio daquele apartamento da Aldeota, milimetricamente arrumado, naquela casa que mais parecia uma vitrine, perto da tia rica, do tio médico e das primas ricas, ante a todo aquele luxo, eu quis oferecer a minha riqueza, a minha alegria, a minha auto-suficiência. Por mais que queiramos encobrir, esses estereótipos existem. A forma como vemos alguém desde criança nos influencia por muito tempo. É uma distância que meu diploma em Direito não compensou. Eu continuo sendo a sobrinha pobre do interior e ela a tia rica. Mas, percebi que eu tinha ganhado uma dádiva da vida. Aprendi, por muito custo, a ter a paz que eu tenho. Claro que a noite passada me perturbou, mas quem não se perturba? O que pensei foi, que eu tenho possibilidades e que minha vida humilde me dá felicidade. Estar em Fortaleza, dentro de shoppings, em meio a tantos carros, cobra das pessoas uma felicidade material. Em Iguatu não. Em Iguatu eu consigo ser feliz com muito pouco, com karate, sushis, almoçar na Dona Neide, andar de bicicleta, ir para o trabalho de havaiana.
No dia seguinte, fui para o Del Paseo por insistência da minha mãe, o que aconteceu foi tão singelo quanto uma brisa perfumada, e, eu quase sou capaz de sentir o cheiro. Enquanto eu caminhava com minha mãe e com as crianças, eu vi meu primo o qual havia perguntado no dia anterior. Ele me olhou surpresa. Paramos uns minutos e conversamos. Minha mãe, interrompia a todo instante. Acho que ele fora meu primeiro amor, se é que eu sabia o que era aquilo. Uma vez, viajei com ele para Alto-Santo para visitar nossa avó paterna. Outro dia, fui com a família para Cascavel e me lembro que adorava passar a mão nos cabelos dele. Talvez, meu vênus em touro, mas, de alguma forma especial, o rosto, os olhos, o cabelo me faziam admirá-lo. Acho até que eu via um pouco a presença do meu pai nele. Quando fiquei adolescente, costumava ir a casa dele, mas ele sempre estava envolvido com a faculdade. Uma vez, até brinquei que ele me esperasse para casar com ele. Ah, eu vi que não passou de uma brincadeira e a vida seguiu e tomou os rumos. O fato é que aqueles dez minutos de conversa, em que ele me abraçou três vezes, me olhou encantado e disse que eu estava linda, talvez, pelo vestido longo,
me fez esquecer das angústias passadas. Lembrei de Clarice em um de seus contos quando um garoto joga confetes nela. Me senti uma rosa, naquele momento. E quis ser juíza para fazer parte do mundo dele. Mesmo que não se realize, como todas as ilusões que tive com ele desde criança, ainda sinto o cheiro da brisa.
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