quinta-feira, 3 de abril de 2014
Diário do Gólgota
Pai, chegando agora de um dia iniciado as 5 da manhã. Aulas dadas e recebidas, dia cumprido e comprido no trabalho. O mundo meu que não para. Mas tudo bem. Estou bem, porque parece que foi aqui, no meio dessa terra quente que vim encontrar algo que, se não é o que procuro, mas é o que me agrada ate o momento, que me distrai de forma suficientemente boa ao ponto de querer ficar, de continuar.
Estou deitado e entanto o sono não não me vem-se, escuto uma música qualquer vinda de um canal que diz saber o que gosto. E eu queria falar com você. Falar de perto, porque parece que finalmente te tenho histórias boas de ouvir, de você gostar, de saber de como anda por aqui o teu sangue de jovem, com uns sonhos que também eram teus. Com umas ideias que hora te encantavam, hora te apavoravam. Meu velho, queria um tempo com você. Um tarde em Itapuã, ao sol que arde em Itapuã. Contar isso sem a pressa de ser surpreendido pelo sono, como um sentinela pelo ataque temido.
Pense nisso. Não sei por quantos dias teremos essa chance. Pela moto, pela pressão arterial, pela tosse ou pela asma, não sei pelo que, mas seria bom ter a hora de falarmos.
Nem vou falar aqui dos dias recentes.
Hoje o dia foi longo, mas terminou bem, entre as belas e firmes pernas de uma estudante do sétimo período de direito.
Depois de um dia cheio, com a segunda enxaqueca da semana e um começo de gripe, o o cansaço se desfez, sem ideal nem desgraça, entre meu suor e os sussurros dela na luz fraca que vinha do banheiro. Hoe amanheci, pela gripe, imaginando que não conseguiria ficar velho, depende, doente, mesmo duvidando de minha capacidade para tal. Hoje, ainda entre as pernas dela, com o lençol cor de salmão envolvendo a cintura branca dela, me imaginei velho, com algum começo de barba incompleta, entre as pernas de uma jovem, tal qual aquela. Devaneio de uns vinte e poucos anos.
Merda. Queria estra conversando isso ao vivo, sim uma tarde sem pressa.
O sono chegou. Meu velho. Eu sinto sua falta chata.
Boa noite, bons dias. Responda se puder.
Abraços daqui, da terra onde dizem que a agua é boa,
Agora me surpreenda!
Nao, nao importa bem o seu fuso horario, mas talvez voce entenda o que eu quero dizer quando afirmo que ja é hoje, porque o relogio, faz pouco tempo, decretou que hoje é quinta, que a cansativa quarta-feira, nem sim, nem cinzas, terminou, e terminou melhor que a encomenda, melhor que as mais verdes esperancas, porque, simplesmente ela me esperou, metade calma, metade impaciente, me esperou na escada, toalha ao redor do corpo, sem muitas palavras e um sorriso, desses de uma adolescencia recém descoberta entre as primeiras rugas dos vinte e quase trinta anos. Ela riu ciente da doce transgressao desnecessaria, ninguém na casa, mas ela me esperou apenas de toalha, e se riu da minha surpresa, olhos acesos e uma pulsacao de sangue seguindo para as cavidades esponjosas, e tudo funciona bem nesses vinte e poucos anos, e ali mesmo, sem cerimonias, sem discursos ou diplomacia tivemos nosso enlace, marmore no chao, e a pele branca dela, e tudo era penumbra, e depois dessa doce ginastica me certifico que Drummond estava errado quando disse que a carne é triste depois do ato. Tive que discordar do Itabirano, embora preferindo acreditar que apenas entendi errado, que sempre entendi errado, que ele nao estava errado. Mas, insistindo na ousadia, desafio Drummond, que a carne nao é triste depois do ato, ela é satisfeita, e todas as filosofias se tornam inuteis, e todos os livros nada ensinam, que todas as religioes nao passam de uma falatoria e uma venda de velas. Porque depois de corpo satisfeito, depois dos poucos segundos de divindade, depois da pequena morte como gostam de afirmar os franceses, o mundo se veste em uma roupa um tanto melhor e faz um tanto mais de sentido, entao, a carne nao é triste depois do ato, ela apenas nao precisa de mais nada em sua felicidade boba e boa.
Nessas horas é que compreendo que o corpo da mulher é uma odisseia, que o corpo da mulher é uma viagem às indias, é ir para um oriente mais ao leste, onde nascem os dias e as lenda, e nesses mares, cores diferentes das ondas, eu Ulisses miope e pretenso vou tentando descobrir, nos diversos sentidos, com todos os riscos e risos que me esperam nas curvas de risos e cinturas, porque é nessas curvas, nas surpresas delas que se guarda o motivo das buscas todas, porque o corpo da mulher é uma grande feira onde se vendem as especiarias todas, e ela me esperou apenas de toalha, escada e penumbra, e ali, marmore, e ela, beleza, noite sem sono, especiarias para todas as buscas entre o perfume dos seios, e assim vamos nos perdendo desde o antigo Ulisses primeiro a esse atual Ulisses pretenso que agora escreve essas linhas com sono, porque amanha, nem sei, mas sei, simples e claro, ela me esperou na escada, toalha no corpo, quase nada, e foi.
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